3º Domingo da Páscoa - A luz sobrenatural da fé





Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo Lucas (Lc 24, 13-35)
O Evangelho deste domingo, que narra o episódio dos discípulos de Emaús, é muito importante para nós, que já cremos, mas temos consciência de que precisamos aumentar a nossa fé. Note-se que aqueles homens que iam para Emaús eram bons discípulos – no caminho, falam de Jesus como "um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante de todo o povo", e narram perfeitamente os acontecimentos relativos aos últimos dias. Tinham entrado em contato com o que era necessário para ter fé – a obra de Cristo e a Sua pregação –, mas terminaram escandalizados com a Sua morte, com o absurdo do amor de Deus escondido nessa injustiça; tinham diante de si todos os preambula fidei, mas, ao invés de crerem, se detiveram diante da Cruz.
Hoje, é possível que muitos ainda conheçam o Cristianismo de forma puramente carnal, como os discípulos de Emaús. Eles viam que havia, na história de Jesus, algo de sobrenatural, mas não creram, porque a fé não é uma dedução simples de raciocínios humanos, mas uma virtude teologal infundida por Deus no coração do homem. É claro que os raciocínios são importantes – existe na fé um aspecto racional –, mas o simples olhar à "história profana", por assim dizer, não conduz à fé. A fé é um dom sobrenatural, está além de nossa natureza. Por isso, não se pode lidar com as verdades de fé como se lida com as coisas meramente naturais. Seria como tentar carregar um tesouro de muitas toneladas com as próprias forças. Para "carregar" a verdade sobrenatural da vida de Cristo, é necessário um "guindaste" também sobrenatural: a fé. Nas palavras de Santo Tomás de Aquino:
"Quanto ao assentimento do homem às verdades da fé, podem ser apontadas duas causas. Uma o induz exteriormente, por exemplo, a visão de um milagre ou a pregação de outros homens que o impulsiona à fé. Mas esta causa não é suficiente, porque a experiência ensina que, vendo um mesmo milagre e ouvindo um mesmo pregador, uns creem e outros não. É preciso, pois, apontar outra causa que mova interiormente o homem para que preste seu assentimento às verdades da fé. Os pelagianos diziam que esta causa interior era unicamente o livre arbítrio do homem... Mas isto é completamente falso porque, como o homem, ao assentir às verdades da fé, se eleva sobre sua própria natureza, é necessário que esta elevação seja produzida por um princípio sobrenatural que a mova interiormente, que é o próprio Deus. Portanto, a fé, quanto ao seu ato principal, que é o assentimento, procede de Deus, que nos move interiormente pela graça." [1]
Portanto, a fé não vem de nós mesmos, como queriam os pelagianos. Podemos preparar todo o terreno, estudar assiduamente o Catecismo, perscrutar obras de teologia e apologética e meditar todas as Sagradas Escrituras; se Deus não intervier, não teremos a fé. O padre Reginald Garrigou-Lagrange, em um artigo a respeito da certeza sobrenatural da fé, cita as seguintes palavras de Lacordaire:
"Um convertido vos dirá: eu li, raciocinei, quis, e não consegui; mas um dia, sem que eu possa dizer como, na esquina de uma rua, ao pé da minha lareira, eu não sei, mas já não era mais o mesmo, eu tinha fé; depois li de novo, meditei, confirmei minha fé pela razão; mas o que se passou em mim no momento da convicção final é de uma natureza absolutamente diferente de tudo que havia precedido..." [2]
O que se passou com o convertido desta passagem foi ação da graça. Os seus esforços humanos não conseguiram conduzi-lo à fé, assim como a mera investigação histórica não tornou crentes os discípulos de Emaús. Só quando Jesus – depois de repreendê-los e explicar-lhes "todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele" – partiu o pão foi que caíram as escamas de seus olhos e eles reconheceram que estavam andando com o Senhor: "Não estava ardendo o nosso coração, quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?"
Quando alguém, à procura da verdade, espera um "argumento fatal" para crer, está cometendo um grande erro, pois a fé é livre. É claro que existe, para todos, o dever moral de crer. A incredulidade, por exemplo, é um pecado terrível. E pode acontecer com pessoas que, tendo a fé, a corroem com seus hábitos imorais. No entanto, um pecado, por si mesmo, não destrói a fé na alma. Como ensina o Concílio de Trento, "por qualquer (...) pecado mortal se perde a graça (...), embora não se perca a fé" [3].
Ao encontrar-se com Jesus Eucarístico, os discípulos de Cristo saem de Emaús e voltam para Jerusalém, porque agora creem no Amor que os amou. Nesta Liturgia, também nós, ajoelhemo-nos diante da Cruz de Cristo e peçamos o dom da fé.

Referências

  1. Suma Teológica, II-II, q. 6, a. 1
  2. A certeza sobrenatural da fé | Permanência
  3. Denzinger-Hünermann, 1544

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