Protestantes viajam na maionese e afirmam: “Papa Francisco evocou Lúcifer no Vaticano”

Está rolando pelas redes sociais um vídeo de uma cerimônia no Vaticano, em que os caluniadores juram que o leitor do hino está invocando Lúcifer. Protestantes ignorantes e até mesmo alguns católicos (daquele tipo que vê maçonaria e conspiração em tudo) estão dando o maior crédito pra essa “denúncia”. Eita gentinha mais trouxa, sô!
Em primeiro lugar, aquilo não é canto gregoriano, é apenas um hino em latim. Em segundo lugar, o hino não fala de Lúcifer, o nome do capiroto, e sim do adjetivo lúcifer, “o que traz luz”, referindo-se a Jesus Cristo. “Lúcifer” era um dos títulos de Jesus na Igreja latina no início do cristianismo.
O hino mostrado no vídeo é recitado no “Ofício das Trevas”, no Sábado Santo, nas vésperas do Domingo de Páscoa. No hino, Jesus é comparado à primeira estrela da manhã (em latim, lúcifer), que vem dissipar as trevas da noite. Também há um vídeo em que esse hino é cantado em cerimônia presidida pelo Papa Francisco (veja aqui).
Achou estranho Jesus ser chamado de lúcifer? Eu também. Mas entendi tudinho ao ler a explicação do William Botazzini, professor de História e de Línguas, especialista em latim. Vivendo e aprendendo…
Jesus era chamado de “lúcifer” pelos antigos cristãos
Por William Botazzini – Blog Tu Es Petrus
 A palavra lúcifer é composta por duas outras: “lux” e o verbo “ferre”.
lux = luz
ferre = portar, carregar, trazer
lúcifer =  o que traz luz
“Lúcifer” é a estrela da manhã que anuncia o Sol. Os antigos cristãos faziam hinos chamando Jesus de “lúcifer”, como aquele que dissipa as trevas e ilumina tudo com a luz da verdade. Isso explica porque, em vários hinos antigos, muitos deles presentes na Liturgia das Horas em latim, há exaltações a Cristo chamando-o de “lúcifer”, assim, com letra minúscula, um adjetivo. Vemos isso, aliás, na Bíblia, neste trecho da II Epístola de São Pedro, na Vulgata:
Et habemus firmiorem propheticum sermonem, cui bene facitis attendentes quasi lucernae lucenti in caliginoso loco, donec dies illucescat, et lucifer oriatur in cordibus vestris (Epistula II Petri 1, 19)
Veja que o último trecho é: “et lucifer oriatur in cordibus vestris”, ou seja, “até que ‘lúcifer’ (aquele que traz a luz, ou seja, Jesus) nasça em vossos corações”. Imagine se São Pedro ia querer que o demônio nascesse no coração de alguém!?
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Igreja dedicada a São Lúcifer de Cagliari, na Sardenha.
Tanto é verdade que, nos primeiros séculos do cristianismo, o termo não tinha nada a ver com demônio, que alguns cristãos eram inclusive batizados com esse nome – como São Lúcifer de Cagliari (século IV) – em uma homenagem a Jesus, já que não ousavam utilizar o próprio nome do Filho de Deus. Mais ou menos como até recentemente no Brasil, quando os pais, por reverência, não chamavam seus filhos de Jesus, mas de “Jésus”.
Acontece que, por causa de um trecho de Isaías na Vulgata Latina – mais precisamente Isaías 14, 12, que cita a “estrela da manhã” que caiu do céu e foi parar no inferno – os teólogos passaram a chamar de Lúcifer o príncipe dos demônios, antigo anjo de luz, e a coisa ficou assim, pelo menos no ocidente.
A partir de então, chamar Jesus de “lúcifer” passou a ser meio, digamos, constrangedor. O costume se perdeu com o surgimento das línguas modernas, em que a palavra “lúcifer” existe quase que somente como nome próprio – “Lúcifer”, assim, com maiúscula.
Então, se alguém vir a palavra “lúcifer” em um texto católico e vier com blablablá de satanismo, mande-o lamber sabão! Ou melhor, mande-o estudar latim, de preferência comigo, claro!
pastor_evangelico
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