Homilias e dizeres do Pe. Fernando Cardoso - 17/08/12

O texto da primeira leitura de hoje, proveniente do livro de Ezequiel, é um daqueles textos bem escolhidos para uma liturgia penitencial, seja comunitária, seja ela pessoal. O profeta se serve da metáfora do nascimento, da infância, da adolescência, da juventude e dos primeiros amores de uma donzela, Jerusalém. Isto é, um povo simbolicamente visualizado numa donzela.

Ela, por seu nascimento, nada tinha que atraísse quem quer que fosse! Era pobre e se debatia em seu sangue. Mas Deus passou perto dela e lhe disse: “Vive!” E ela começou a crescer, começou a crescer e a fazer-se bela, e Deus não a abandonou, pelo contrário, qual jovem enamorado, apaixonadamente enamorado, entrega-lhe os melhores tesouros a ponto de, aquela “meninazinha”, rejeitada por todos em seu nascimento, tornar-se uma jovem rainha esplendorosa.

Mas que fez Jerusalém, simbolicamente traduzida numa jovem? Traiu, miseravelmente, o seu esposo e foi atrás de outros amantes, isto é, outros deuses, cometendo a idolatria e todos os outros pecados, inclusive desordens sexuais, que derivam do abandono do Deus ético, do Deus justo e do Deus verdadeiro.

Em primeiro lugar, esta “jovenzinha”, esta “virgem” transformada em “prostituta” é Jerusalém antes da catástrofe nacional de 587, precedida de uma outra primeira, 598 a.C. Mas, como eu disse, o texto pode ser aplicado a cada um de nós, inclusive no Novo Testamento. Quanto recebemos de Deus desde o nosso nascimento? Quantos dons naturais? Quantos dons sobrenaturais? De quantos perigos não nos terá Ele libertado? E que fizemos a partir do momento em que crescemos e assumimos a consciência e a responsabilidade pelo que realizamos? Muitas vezes, e esta é a liturgia penitencial, devemos confessar que abandonamos o primeiro esposo, que abandonamos a Deus, que lhe demos as costas, e que fomos atrás de mesquinharias que, mais tarde, de ilusões se transformaram para nós e amargamente em desilusões, mas Deus não eliminou o projeto que tem conosco.

E por isto a leitura deste texto, hoje, pode convidar-nos a uma verdadeira, profunda e definitiva conversão: não quero mais ser pecador, não quero mais ser medíocre, mas quero ser fervoroso na fé e quero ajudar a outros também.
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