Homilia do Pe Fernando Cardoso - 26 de dezembro de 2011

Existem duas oitavas que foram conservadas na Igreja, após a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II: a oitava da Páscoa e a oitava do Natal. Neste segundo dia da oitava do Natal, de longa tradição, celebramos a festa do mártir Santo Estevão.

A respeito deste mártir Judeu, Cristão e helenista, sabemos muito pouco: apenas o que Lucas nos informa, em seus capítulos 6° e 7° dos Atos dos Apóstolos. Tratou-se de um líder de alguma comunidade Judaica Cristã, de fala grega.

Não conhecemos sua existência. Lucas, porém, descreveu-nos seu martírio, calcando-o na morte de Jesus. Isto porque era concepção Lucana, ao iniciar o segundo volume de sua obra, Os Atos dos Apóstolos, fazer com que a Igreja repetisse, o que fez Jesus durante Sua vida terrestre.

Jesus morreu perdoando Seus inimigos: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem.” A mesma coisa Estevão ao ser apedrejado: “Senhor Jesus, não lhes imputes este pecado.”

Jesus não entregou Sua vida ao sepulcro, mas nas mãos do Pai. “Pai, em Tuas mãos entrego o Meu Espírito.” A mesma coisa Estevão, ao ser apedrejado e ao morrer: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito.” E, desta maneira, a Igreja o foi transformando, aos poucos, na tradição litúrgica e Cristã, naquele que ensina como se deve morrer.

Na Idade Média, apareceu um opúsculo, conhecidíssimo e muito difundido, com o nome de “Ars Cristiana Moriendi;” ou a arte de se morrer cristamente. Pois bem, Estevão nos ensina isto.

Mas poderíamos buscar também de sua existência, o que a liturgia hoje nos oferece: a não permitir que o nosso coração seja povoado por inimigos. É possível que inimigos figadais clássicos, não tenhamos. Estes são bem mais possíveis de serem encontrados nas grandes classes; entre políticos ou entre empresários. Mas pessoas antipáticas, pessoas que não pensam como nós, pessoas que, vez ou outra, nos fizeram mal ou deixaram de nos fazer o bem que lhes estava ao alcance.

Ou ainda, pessoas que não nos toleraram, pessoas que não nos deram tempo para crescer, pessoas que não tiveram paciência para conosco; este tipo de gente, nós conhecemos. Esta galeria de personagens, cada um de nós pode, perfeitamente, fazer perfilar diante de si.

Pois bem, nesta oitava do Natal, e ainda repletos das bênçãos do Natal, nós gostaríamos, como Estevão, de oferecer, generosamente, uma absolvição individual e personalizada a cada um deles, pedindo a Deus que aja também, generosamente, para com cada um de nós que perdoamos, porque somos pecadores perdoados; perdoamos, porque Deus também nos perdoou; perdoamos, porque Deus nos perdoa constantemente e jamais nega Seu perdão, a quem se humilha diante Dele.

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