Separar do pecado o pecador

Não podemos fazer do pecado um projeto de vida

Na Carta Encíclica “Spe Salvi”, o Papa Bento XVI diz que o juízo de Deus é para nós fonte de esperança. Como coisas tão trágicas – como o inferno e o juízo de Deus – podem trazer esperança? Existem pregadores que não querem falar do inferno e dizem que Deus é amor, misericórdia, por isso como poderia existir o inferno. Isso é artimanha do diabo: transformar a confiança em Deus em presunção, ou seja, a pessoa não leva a sério suas responsabilidades porque tem a presunção de que será perdoada!

Nunca pregamos tanto a misericórdia de Deus e estivemos tão atolados em pecados como agora, tudo isso por causa da presunção. E assim muitos pensam: “Se o inferno não existe, o que tem se eu roubar esse dinheiro?” Se não acreditamos mais na existência do inferno nos transformamos em pessoas para além do bem e do mal. O pecado é aquilo que me destrói, me faz uma pessoa pior, e eu não posso agora usar a misericórdia de Deus para justificar minha destruição.

A mãe ama seu filho, mas odeia o pecado que o destrói. Nós que somos seguidores do Deus, que é Amor, temos de alimentar em nosso coração um amor infinito pelos pecadores e ódio supremo pelo pecado. Temos de ser capazes de dividir essas duas realidades.

A grande diferença entre o cristão e o não cristão, no campo moral, é que o cristão peca e odeia o seu pecado, e o não cristão peca e faz do pecado um projeto de vida, um jeito de viver.

Nós precisamos usar essa espada que divide pecado e pecador. Nós amamos nossos irmãos pecadores, mas odiamos o [pecados] que eles fazem. O sacerdote atende os fiéis em confissão, sentado, porque ali ele age como um juiz, para absolver o pecador.

Santo Isaac de Nínive dizia o seguinte: “O homem que chora os próprios pecados é maior que este que ressuscita os mortos”. Por quê? Quando você chora os próprios pecados o Reino de Deus está acontecendo em você. Existem pessoas com o coração fechado, fechadas para Deus e para a bondade. Pessoas assim, soberbas, duras, não se dobram ao Senhor. E também há pessoas como nós, que temos esse coração medíocre, somos honestos, mas de vez em quando mentimos; nós rezamos, mas de vez em quando perseguimos quem reza; perdoamos, mas também guardamos mágoa. Imagine se vamos entrar no céu com um coração assim? Não pode ser!

De nada nos adianta dizermos que amamos a Deus Pai se não odiarmos os nossos pecados para sermos d'Ele. Se você se arrepende dos pecados, o Todo-poderoso precipita o pecado no inferno e salva o pecador. Nós precisamos chegar no céu com o coração transformado, e isso é misericórdia de Deus para nós.

O inferno existe não porque Deus não é misericórdia, mas porque somos livres para voltarmos nossas costas para o Senhor. Então leve a sério a sua vida, tenha medo de perder Deus! Ao mesmo tempo, devemos ter infinita confiança n'Ele, confiança de que Ele não morreu inutilmente e de que Ele fará de tudo para nos salvar.

Por isso, ninguém está autorizado a parar de pregar sobre a existência do inferno. O julgamento de Deus Pai nos fins dos tempos é para nós fonte de grande esperança. Nosso Senhor quer nos salvar. Se você vê que na sua família há pessoas fazendo do pecado um projeto de vida, ajude-as a sair desse mal.

(Texto adaptado da pregação de setembro de 2010).
Padre Paulo Ricardo

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