Jornalismo pode muito, mas o que resolve é articulação da sociedade

Thaysi Santos
Do Rio de Janeiro


Jornalista Marcelo Canellas
A série de reportagens que denunciava a situação desoladora da fome no país foi aprovada pela redação e ao entrar no ar no Jornal Nacional, trouxe uma sensação de alívio e dever cumprido a Marcelo Canellas, repórter da Rede Globo de Televisão. Também pudera, ele havia lutado pela pauta durante quatro anos e agora, sua missão de jornalista-artífice de transformação da sociedade parecia ter sido bem sucedida. Mas apenas 15 dias depois, uma informação o deixaria com uma enorme sensação de impotência: Maria Rita, uma de suas entrevistadas, havia falecido por complicações provocadas pela fome e desnutrição.

Foi a partir dessa "perda" que Marcelo foi compreendendo que o jornalista precisa de humildade para entender que, tanto ele, como os grandes veículos de comunicação, não podem mudar o mundo e que as grandes mudanças sociais dependem da ação politica da sociedade organizada. Em seu entendimento, o que cabe ao jornalista é, de certa forma, denunciar o cansaço do poder e as realidades que muitas vezes ele não enxerga e que podem ser mudadas se assim houver um interesse.

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Canellas, um dos grandes nomes do jornalismo quando se fala em seca do nordeste, fome e desigualdade social, e um dos repórteres mais premiados do Brasil, foi um dos conferencistas no painel sobre "Documentário, ficção e vida cotidiana" durante o 7º Mutirão de Comunicação, o Muticom 2011, realizado pela CNBB na PUC-Rio e que segue até sexta-feira, 22.

"A relação entre repórter e redação sempre será conflitante, porque envolve diferentes pontos de vista. Cabe ao jornalista apresentar suas pautas com argumentação teórica e postura profissional e estar preparado caso venha a receber um 'não'", afirmou Canellas.

O jornalista criticou o distanciamento do repórter das ruas. "Matérias elaboradas dentro da redação perdem credibilidade e podem se transformar em cópias e barrar formas criativas de narração."

A vida captada e narrada pelos meios de comunicação foi o assunto da manhã desta terça-feira, 19, na mesa de debates que reuniu cineastas e mestres de comunicação. O professor de pós-graduação em comunicação na PUC-Rio, Miguel Pereira, criticou o conceito de celebridade que existe hoje. "Quem se destaca de alguma forma pelo que faz, deve ser comunicador para fora e não comunicador de si mesmo", afirmou. Premissa que encontra suas bases no próprio Evangelho, quando se pensa numa perspectiva de anúncio. "Tudo o que passa disso é vaidade. É preciso semear a verdade e entender que seremos sempre eternos aprendizes."

Além de Canellas e professor Miguel, participaram do painel a professora Moira Toledo, da Fundação Armando Alvares Penteado e o coronel Robson Rodrigues da Silva, comandante geral das unidades de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro, que abordou a cobertura dos crimes pelos meios de comunicação.

Enquanto os conferencistas debatiam a abordagem do cotidiano nas diversas mídias, em outro ambiente da Universidade era exibido o filme "Bicho de Sete Cabeças", prêmio Margarida de Prata da CNBB de 2001. Essa diversidade e o amplo cárater de discussão temática tem consagrado o Muticom como um dos grandes congressos no campo da comunicação no Brasil.

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