Cristãos perseguidos na Terra Santa: Igreja pede solidariedade

Leonardo Meira
Da Redação CN


Os cristãos na Terra Santa enfrentam uma série de desafios. Além da redução drástica no número de fiéis - a ponto de já se poder falar em uma certa "luta pela sobrevivência" -, há uma espécie de vácuo legislativo no que diz respeito a normas que garantam o amplo acesso a direitos fundamentais, como a plena liberdade de culto e manifestação da fé.

O jornal alemão Der Spiegel sintetizou, no início deste mês, o cenário: "A ascensão do extremismo islâmico coloca uma pressão cada vez maior sobre os cristãos que vivem em países muçulmanos, que são vítimas de assassinatos, violência e discriminação. Os cristãos agora são considerados o grupo religioso mais perseguido em todo o mundo".

O prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, Cardeal Leonardo Sandri, solicitou que a Igreja Católica em todo o mundo apoie a Terra Santa. Em carta dirigida aos bispos divulgada nesta segunda-feira, 8, o Cardeal indica a oração, participação vigilante e generosidade concreta como meios de viabilizar esse apoio.

.: Carta ao episcopado mundial: incentivo para ajudar a Terra Santa - NA ÍNTEGRA

Frente ao problema da crescente emigração de cristãos, o purpurado lembrou a visita de Bento XVI à região em maio de 2009. "Sublinhando fortemente o problema incessante da emigração, Sua Santidade recordou que 'na Terra Santa há lugar para todos!'. Exortou as autoridades a favorecer a presença cristã, mas ao mesmo tempo assegurou aos cristãos daquela Terra a solidariedade da Igreja".

Ao destacar que a Igreja na Terra Santa deve se manter como testemunha das grandes obras da salvação, o Cardeal Sandri enfatizou: "Os cristãos do Oriente têm, com efeito, uma responsabilidade que é da Igreja universal, a de custodiar as "origens cristãs", os lugares e as pessoas que deles são sinais, para que estas origens sejam sempre a referência da missão cristã, a medida do futuro eclesial e de sua segurança. Portanto, merecem o apoio de toda a Igreja".


Desafios

Uma breve consulta ao Observatório da Liberdade Religiosa no Mundo - mantido pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) - oferece uma ideia da gravidade da situação enfrentada pelos cristãos na Terra Santa.

A plataforma online disseca, através de exemplos, números e análises, o contexto em Israel e na Palestina.

"Em relação ao culto, os cristãos também são vítimas de discriminação e de incômodos. Os domingos não são dias de descanso em Israel e um estudante cristão pode mesmo ver-se obrigado a fazer um exame no Domingo de Páscoa. Os extremistas judeus atacam também por vezes os Cristãos. No início de Março de 2006, três israelitas, um homem e uma mulher e a sua filha, usando um carrinho de bebé no qual tinham escondido pequenas latas de gás, lançaram fogos de artifício para dentro da Basílica da Anunciação, em Nazaré, durante uma cerimónia religiosa (La Croix, 6 de Março de 2006). Também os vistos para os padres e as religiosas que vêm do mundo árabe nem sempre são aprovados e as autoridades são livres de tomar as suas próprias decisões sobre esta questão", reporta o Observatório.

Na Palestina, "nos últimos anos, o dia a dia dos Cristãos deteriorou-se devido ao aumento da pressão e da intimidação por parte dos Muçulmanos. De acordo com Afaf Abou Habil, um professor da escola primária em Nablus (Margem Ocidental), 'desde a primeira Intifada (1987), o preconceito contra os Cristãos aumentou. Nós somos acusados de não participar suficientemente na batalha e de cooperar com os americanos e israelitas. Eles dizem que nós somos estrangeiros. Os que espalham estas ideias são ignorantes; o problema é que são cada vez mais' (La Croix, 18 de Maio de 2006)".

De acordo com a ferramenta disponibilizada pela Fundação AIS, "os Cristãos da Terra Santa encontram-se divididos em três 'famílias' e treze confissões religiosas. O grupo 'Ortodoxo' (no sentido da sua separação de Roma) é o mais numeroso e inclui os Ortodoxos Gregos (população árabe, hierarquia grega), os Armênios, os Siríacos, os Coptas, os Etíopes e os Russos. O grupo Católico inclui os Latinos, os Greco-melkitas (trata-se dos árabes do rito bizantino), os Siríacos, os Armênios e os Maronitas. Por último, os Protestantes nesta região incluem os Anglicanos e os Luteranos, sob uma diocese comum. Também existem os cristãos de origem judaica que surgiram em cena mais recentemente".

Comentários

Antonio Eça disse…
A par desta triste realidade da Terra Santa, é bom lembrar que a Igreja nasceu em Jerusalém. Lá é nosso berço. Por isto, soa estranho dizer que Ortodoxos são separados de Roma. Como pode o que prescede separar-se ter dependência do que lhe suscede? A Igreja Ortodoxa nunca esteve atrelada a Roma, pelo contrário, durante mil anos Roma manteve comunhão com as Igrejas do Oriente, delas se afastando para se seguir um caminho próprio. Em tempos de diálogo, é bom falar das coisas como elas são, pois só a verdade possibilita o entendimento e a superação das fraquezas.
Daniel Radd disse…
Olá Antônio. A Igreja apostólica Romana segue desde o tempo de Jesus Cristo e teve seu crescimento em Roma. Desde S. Pedro o primeiro Papa até Bento 16 o atual Papa.
A igreja Ortodoxa, também conhecida como Igreja Católica Apostólica Ortodoxa ou Igreja Ortodoxa Oriental é uma Igreja cristã que separou-se da Igreja Católica Apostólica Romana no século XI.
Como assim dito "Em tempos de diálogo", a Igreja católica apostólica romana e a Igreja católica Ortodoxa mantém um diálogo aberto de conciliação e de “Fusão” tentando resolver as diferenças. A Igreja Católica Ortodoxa reconhece o primado do Papa e que o bispo de Roma é considerado como o primeiro entre os patriarcas, tanto nas Igrejas do oriente como nas do ocidente.

Obrigado pelo comentário no Blog.

Segue por motivo de curiosidade:
http://blog.bibliacatolica.com.br/santa-se/comissao-catolico-ortodoxa-reconhece-primado-do-papa-mas-estuda-sua-funcao/