Natal

Assim falava o profeta Isaías aos seus contemporâneos: “Apalpamos como cegos a parede, andamos tateando; jazemos como mortos nas trevas; rugimos como ursos e gememos como pombas” (Is 59, 10-11). Porém, anunciamos uma grande alegria: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz” (Is 9, 1), eis o nosso Deus. Hoje nasceu para nós o Salvador, Cristo Senhor; esta é a nossa alegre certeza. Embora muitos homens ainda vivam as primeiras palavras de Isaías, nossos ouvidos escutaram no meio da noite: a estrela da manhã se levantou; um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado (cf. Is 9, 5). O seu nome é “Deus vem salvar-nos”!; “Salvador” é, em nossa língua, o nome mais elevado para Jesus de Nazaré; salvador significa certeza. Um salvador na figura de uma criança, um salvador tão vulnerável, tão frágil e desarmado como uma criança.

Para reconquistar os homens, para elevá-los a si, para falar com eles, Deus veio a este mundo como uma criança, como um balbucio que é fácil de sufocar. Jesus não é uma tradição anual, por ocasião do fim de ano (25 de dezembro), não é uma fábula. Jesus é parte verdadeira da nossa história humana. Hoje, nasceu para vós o Salvador; porém, a voz ainda não foi ouvida. Não é somente aos pastores de Belém que Deus envia sua mensagem. Para todos os tempos se renova aquilo que o final do evangelho de Lucas fala: “Vós sois as testemunhas de tudo isso, sereis revestidos da força do alto” (Lc 24, 48ss). Por todos os que dão testemunho, hoje ou amanhã, juntamente com o anúncio da vida e morte gloriosa de Cristo será dito aos homens: “nasceu para vós um Salvador que é o Cristo Senhor” (Lc 2, 11). Esta palavra do anjo continuará sua missão por séculos afora, enquanto houver um homem que ainda não a ouviu. Hoje, somos nós os destinatários, não só da palavra do anjo, mas do júbilo divino desta mensagem. Hoje nos nasceu, a ti... a mim... o Salvador!

Celebrar o Natal significa receber em nós a sabedoria de Deus como nossa sabedoria. Natal não é só o nascer de Deus para este mundo, mas o nascer de Deus dentro do homem novo, dentro de nós. O Natal é a exaltação da graça, é epifania da bondade de Deus e de seu amor pelos homens (cf. Tt 2, 11; 3, 4); é o dia, é o tempo da ação de graças, do puro louvor. A oração do hino “Glória a Deus nos mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama” (Lc 2, 14) deve ser o verso para uma meditação e para uma oração verdadeiramente natalícia. O Natal é a exaltação da contemplação, do estupor: “os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido” (Lc 2, 20).

Peçamos, para nós, no Natal de Cristo, um pouco menos de “religião tradicional” e um pouco mais de fé. Para que nós sejamos seus, ele se torna um dos nossos, até na pobreza, até na morte. E este é o divino intercâmbio da noite e do dia de Natal, na qual o céu e a terra trocam seus dons, seus presentes. Não só na gruta do nascimento em Belém, mas em todos os lugares é Natal, é glória divina, onde sempre for anunciado este nascimento e onde alguém ouvir e crer na ternura e misericórdia divinas.

Pe. Pedro Alberto Kunrath
Pároco Santuário N. Sª da Paz

Fonte: http://www.nspaz.hd1.com.br/paroco0004.htm

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