Liberação de células embrionárias: nadando contra a corrente

Dr. Frei Antônio Moser
Teólogo

Como já anunciara logo após sua posse, o atual presidente dos Estados Unidos não só liberou o uso de células humanas embrionárias, como liberou uma vultosa verba para viabilizar pesquisas com elas. Claro que esse fato ofereceu oportunidade para a imprensa voltar a um assunto já mais do que discutido.

Curiosamente, aqui no Brasil, depois da mesma liberação, fez-se um significativo silêncio. É que, as estrondosas promessas que serviram de suporte para obter a liberação, estão se revelando muito parecidas com promessas de políticos em tempos de campanha. No caso, as pré anunciadas curas miraculosas de todos os males não aconteceram. O que efetivamente está acontecendo é a liberação de verbas, sempre bem vindas.

Além do silêncio por parte dos arautos da causa, o que vai se firmando aqui no Brasil e em outros países, é uma quase certeza de que o caminho de um possível êxito vai justamente em sentido contrário. Para além das convicções éticas, pesquisas com células adultas, vão adquirindo sempre maior credibilidade. Por isso mesmo, é nesta direção que vão se concentrando os esforços.

Não é que se tenham obtido resultados estrondosos e muito menos que os verdadeiros pesquisadores julguem esconderem-se nas células todos os segredos para uma vida saudável. Os verdadeiros pesquisadores vão se apercebendo de maneira sempre mais clara de que pesquisar com células, mesmo adultas, além de competência, se requer paciência. E que além de paciência se requer prudência.

Vão se apercebendo também que se até os animais são sempre mais respeitados, graças à leis que os protegem, nada justifica fazer experiências no nível genético com seres humanos. E, com razão se perguntam: por que pesquisar com embriões humanos, se as evidências apontam na direção de células adultas? Por que tentar, ainda que de maneira mais sofisticada, trilhar caminhos que todos condenamos em relação aos “pesquisadores” que acabaram condenados como monstros humanos?

É verdade que a admiração pelo que se passa nos EUA e, de modo geral, por nações até há pouco denominados de primeiro mundo, está diminuindo de maneira vertiginosa. As razões desse certo desencanto apontam não apenas para fracassos econômicos, como também para posicionamentos éticos incompatíveis com os tão proclamados Direitos Humanos. Basta pensar na crescente onde de discriminação por motivos de raça e religião.

Infelizmente, no inconsciente de um certo número de pessoas das nações emergentes, encontra-se escondido um dito totalmente superado pelos fatos: “ O que é bom para as nações do primeiro mundo, também deve ser bom para nós”. Por isso mesmo, convém deixar claro uma vez mais que, se temos muito a aprender daquelas nações, temos também muitas razões para divergir delas justamente no que se refere a Direitos Humanos.

De qualquer forma, o mínimo que se pode dizer a propósito do que uns poucos retardatários julgam ser um avanço, é que a liberação de embriões para qualquer tipo de experiência significa nadar contra a corrente. E para os que apregoam o respeito incondicional à vida em todas as suas formas, esse gesto nada tem de progressista: é mais uma manifestação retrógada de quem não acompanha a verdadeira evolução científica.

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